Realidade Virtual ou algumas reflexões provocativas sobre ensino na modalidade EAD

Bom. Tomamos coragem. E, entre brincadeiras, culinária, horta, trabalhos de web designer, vídeos de bruxas e brincadeiras de comidinhas nós resolvemos parar e escrever um pouco sobre a utilização de tecnologias em todas as dimensões da vida, inclusive educacional.

Dizemos que tomamos coragem porque sabemos exatamente no vespeiro onde estamos colocando a mão. Sabemos do risco do cancelamento (para usar um termo da moda rsrsrsrs) E, de antemão, entendemos que é preciso reforçar o nosso posicionamento em defesa da educação pública, laica e de qualidade. É preciso reforçar que, entendemos que o uso exclusivo do recurso tecnológico aumenta o abismo do acesso à educação. É preciso reafirmar que sabemos que por detrás da proposta de educação a distância que vem se construindo no Brasil e que se acelerou na pandemia, está uma lógica mercantilista e perversa. Mas na nossa leitura, todas essas questões não são exclusivas de uma ou outra forma de ensino.

Contudo, longe se fazer uma defesa da modalidade de educação a distância, a nossa proposta é pensar a questão da tecnologia em nossa vida, inclusive na perspectiva da educação de jovens e adultos. 

As tecnologias de comunicação possibilitaram uma dimensão de realidade para a qual não estávamos acostumados e nem sabíamos que poderíamos estar.  Há 20 anos atrás, o ato de falar com alguém que está longe vendo a pessoa em tempo real, era quase que uma coisa impossível. Em 2020, perguntamos…quem está lendo esse texto e nunca fez uma chamada de vídeo?

E pergunta após pergunta…para quem já fez chamada de vídeo, aquele momento não foi real? Você vai dizer que aquela pessoa não estava com você naquele momento? Ou, em tempos pandêmicos, quem nunca esteve numa reunião, num curso pelas plataformas como Meet ou Hangout? Aquilo não aconteceu?

Enfim, a realidade virtual não é antagônica ou a negação da realidade como temos percebido até aqui. A realidade virtual é uma das dimensões dessa realidade. Uma dimensão desconhecida…nova e que, como tal causa bastante estranheza. Afinal de contas, como estar, não estando?

Lembro da minha dificuldade em mudar do Orkut para o Facebook. Depois do Facebook, a dificuldade em criar uma conta no Instagram….e assim por diante. Conversávamos esses dias sobre o que foi para os professores que estavam acostumados com transparências, o uso do power point e hoje quase ninguém vive sem. 

O que estamos querendo dizer é que as tecnologias vieram para ficar. Possuem múltiplos aspectos negativos, mas o que que precisamos discutir é sobre como isso vai ser feito. Como essas tecnologias irão fazer parte da forma como a gente se relaciona, da forma como a gente vive. As críticas por exemplo as redes sociais é que elas não refletem a vida das pessoas. E a pergunta é: qual parte da realidade que reflete de fato a vida das pessoas?

Exemplo, quem nos acompanha no Facebook sabe de algumas coisas da nossa vida, que quem se encontra com a gente para uma reunião presencial não sabe. Percebem? O que é real? O que não é real? Não dá para medir apenas pelas tecnologias.

Estamos dizendo tudo isso para pontuar que não somos entusiastas da modalidade EAD no ensino, como vem sendo posta na atualidade, à revelia da vontade de docentes e discentes. Mas também não vamos nos juntar ao coro dos que utilizam as redes sociais e as plataformas de encontros ao vivo para dizer que ensino virtual não é ensino. Ora, Ora, Ora. Se não serve para nada, porque estamos fazendo 300 mil lives sobre temas diversos?

Enfim, esse é um dos grandes desafios para nós, pessoas que estão vivendo esse tempo, que estão sendo desafiados a entender que a realidade virtual é mais uma dimensão da realidade.  A crítica ao ensino EAD deve ser feita da mesma forma que fazemos a da privatização da educação, da saúde e de tantas outras.

Temos consciência de que essa modalidade aprofunda desigualdades, mas não é pelo uso das tecnologias em si e sim pela não garantia de acesso e por isso talvez a nossa luta deva ser para qualificar esse acesso, qualificar essa modalidade. Todavia, na maioria das vezes a gente opta por permanecer nessa negativa radical, fechando os olhos as possibilidades e o mais sério, fechando os olhos a uma dimensão da realidade.

O mundo vai parar por causa da nossa negativa? Não! E isso serve para tudo! Só para exemplificar: enquanto nós, da esquerda, ficávamos insistindo em assembleias, rodas de conversa, formação e tals, a direita mais reacionária, conservadora e covarde desse país, comprava robôs para disparar pacotes de informações falsas via whats App. Adivinha quem venceu? Nós não estamos limitando a análise na disputa eleitoral em si, já que a proposta não é uma reflexão simplista. Falamos aqui de projetos societários. E a vitória desse projeto significou anos de atraso de uma caminhada democrática que se iniciava.

Enfim, o que queremos dizer é que a realidade virtual está aí. É parte da nossa vida. E, quer queiramos ou não, vai ser cada vez mais. Como vamos lidar com isso?

Texto escrito em parceria com Arlei Rosa dos Santos

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