Drummond e meu celular furtado

Comprei meu primeiro celular em 2004. Era um Nokia 1100. Amava. Coloquei tantas capas diferentes. A mais emblemática era uma amarela, do Piu Piu. Meu numero era da Tim e hoje eu vejo que a única coisa que tinha de legal no celular era a possibilidade de trocar mensagens escritas.

Como era esplêndido. De repente ele foi ficando obsoleto. Nem sei que fim levou. Só me lembro depois, já em 2007, quando eu consegui o meu V3 Pink. Que sonho. Quase todo mundo tinha. A minha capa tinha strass. (Falsos, evidente).  Você podia colocar a música que quisesse como toque.  A minha era “Have you ever seen the rain” da banda Creedance. Nem sabia o que significava. Gostava da musica, do tom meio rasgado da voz dele. Hoje faz tanto sentido: “Alguém me falou há muito tempo, que há uma calmaria antes da tempestade. Eu sei, vem vindo há algum tempo. Dizem que quando terminar, choverá num dia ensolarado. Eu sei, brilhando como água. Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?”. Eu me sentia, quando o som do Creedance invadia o espaço e eu sacava da bolsa aquele V3 com capa de strass. E, coincidentemente foi também meu primeiro celular furtado. Em 2008 em Salvador em um shopping em que fui jantar depois da Conferência Mundial de Serviço Social.  Coloquei na mesa pra ir pegar o prato e depois já não estava mais lá. Hoje lembro que nem sofri tanto.

Voltando prá Franca comprei outro. Outro V3, evidente.  Só que esse era preto. Também não sei que fim levou.  E aí em 2011 comprei meu primeiro android. Era um Nokia N6. O teclado era físico e as teclas minúsculas. Mas eu conseguia trocar mensagens via facebook sem  precisar estar no computador. Que presente. Lembro das madrugadas adentro conversando com Arlei e me apaixonando. A musica eu trocava sempre. Mas gostava de duas em especial “Africa” da Banda Toto e “Losing My Religion” … que eu também não sabia o que significava mas gostava. Tinha o toque de mensagens, que era o Chaves falando “Já chegou o disco voador”. Hilário.

O tempo foi voando, já que “passando” não é verdade. Estamos em 2019.  Com whats app, instagram e trezentos mil aplicativos. No meu celular já não tinha mais musica de toque. Até porque quem liga hoje? Mas tinha 32G de memória. Um modelinho simples e comercial da Samsung. Gradativamente fui registrando a vida no celular. Umas 500 fotos das meninas. Uns 200 vídeos, incluindo um dos primeiros banhos que dei em Angelina de Lourdes, 9 dias depois de nascida. Uns 50 livros em PDF.  (As alunas e alunos sabem que eu já tava a louca dos PDFs. Dava aula com o celular na mão, usando os textos). Tinha no meu celular também um grupo de whats app onde só tinha eu, e onde eu escrevia textos, frases, doideiras. CNH Digital, Carteira Funcional Digital. Aplicativos de bancos, de jogos. De tudo.

E na última quinta feira meu celular foi furtado. Parei prá comer um pastel antes de uma reunião. Coloquei o celular no balcão e fui escolher o pastel. Se demorei? Não!!! Afinal de contas não tem o que escolher quando na Pastelaria tem pastel de calabresa com catupiry. É olhar e pedir, meus amigos. E nesse olhar e pedir foi embora meu celular. Não tinha bloqueio de tela. Não tinha nenhuma proteção. Eu não tenho mais a nota fiscal e nem a caixa. Tô dizendo isso pra evidenciar que nesses três dias já passei por todas as fases. Choro, tentativa de bloqueio, revolta, busca desesperada nos grupos de “feiras do rolo”, tentativa de negociar, oferecimento de recompensa alta. E terminando o domingo, começo a pensar que terei que comprar  outro.  E por que esse texto? O que Drummond tem a ver com o furto do meu celular? Porque nos momentos mais confusos, desesperançosos e loucos da minha vida eu adoto o que chamo de Conselho do Drummond: “Não grites, não suspires, não te mates: escreve. Escreve romances, relatórios, cartas de suicídio, exposições de motivos, mas escreve”. Eu escrevo poeta. Escrevo.

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