Contribuições para estudos sobre gênero e diversidade sexual

CISNE, Mirla. SANTOS, Silvana Mara Morais. Feminismo, Diversidade Sexual e Serviço Social. São Paulo: Cortez 2018 (Biblioteca Básica de Serviço Social; v.8)

A proposta desse post  é auxiliar quem tem interesse de entender um pouco mais sobre o debate de gênero e diversidade sexual a partir do Serviço Social. Esse texto é uma síntese explicativa do primeiro capítulo do livro dessas fadas sensatas, Mirla e Silvana, que não é a toa que estão na Coleção Biblioteca Básica de Serviço Social da Editora Cortez. O livro é composto de 3 capítulos, sendo o primeiro “Fundamentos teórico-políticos da diversidade humana, do heteropatriarcado e do racismo”, onde as autoras vão apontar a base teórica que sustenta a análise proposta no livro. O segundo “Questão social e diversidade humana na formação socioeconômica do Brasil” traz um debate mais especifico sobre racismo, patriarcado e diversidade sexual, destacando a violência LGBTfóbica. No terceiro e último capítulo, tem-se o debate da intersecção entre feminismo, diversidade e o projeto ético político do Serviço Social.

Capitulo 1: Os fundamentos teórico-políticos da diversidade humana, do heteropatriarcado e do racismo

As autoras iniciam apontando a importância dos debates referentes a feminismo e diversidade sexual para o Serviço Social, mas ressaltando a complexidade dessas temáticas e a necessidade de definição de perspectiva teórica para esse debate. Elas definem desde as primeiras páginas que a abordagem escolhida por elas é de totalidade, na medida em que o ser social é histórico e que existe uma relação entre sociabilidade e individualidade. Ressaltam ainda que o trabalho é que funda as relações sociais e que nesta sociedade esse trabalho possui basicamente três divisões: divisão social do trabalho, divisão racial do trabalho, divisão sexual do trabalho. Assim, as relações sociais se dão a partir de elementos que se inter-relacionam, num complexo de determinações.

O ponto de partida para o debate marxista que as autoras propõem, é o item 1.1. intitulado “Trabalho, indivíduo e diversidade humana”.  Segundo as autoras, o trabalho é uma das dimensões centrais da práxis social humana, sendo que através dele, desenvolve-se a reprodução social e ao mesmo tempo o gênero humano e a diversidade. Através do trabalho os indivíduos constroem-se a si mesmos e a totalidade social. A partir dessa delimitação de trabalho, podemos pensar o indivíduo. De acordo com as autoras, a concepção de individuo trazida por elas, supera a “mera singularidade da espécie humana”. Esse processo pode ser nominado com o processo histórico da individuação, conforme explicitam as autoras:

“Trata-se de um processo histórico caracterizado como individuação que decorre da ação do individuo singular no decurso do desenvolvimento das forças produtivas. O que implica entende-la –  a individuação – como processo em movimento de busca permanente,  sob dadas condições concretas, em que o individuo, inserido na divisão social do trabalho, amplia suas capacidades humanas mediante as respostas dadas para a execução da finalidade estabelecida no ato de objetivação do trabalho. São respostas que o desafiam a cada momento. Ao enfrenta-las, o individuo define finalidades, faz escolhas entre alternativas postas e criadas objetivamente, reelabora instrumentos, desenvolve a criatividade, atende a determinadas necessidades e se abre continuamente para novas necessidades e respostas (p.30, grifo nosso)”

Ao desenvolver essas ações, existe a superação da singularidade da existência enquanto espécie humana, e ao mesmo tempo a construção da individualidade. Daí, processo de individuação. Na concepção apresentada pelas autoras, o indivíduo é, portanto, sujeito histórico, ao mesmo tempo, ser singular e ser genérico.

É no processo de individuação que temos pontuado a centralidade da questão da diversidade. Os indivíduos, a partir do processo de individuação, vão se construindo de forma diversa, devido um conjunto amplo de atos que impulsiona no processo reprodutivo. Assim, a diversidade “nasce” de um movimento histórico no ato do trabalho.

A partir dessa conceituação teórica, as autoras vão no item 1.2. (Patriarcado, divisão sexual e racial do trabalho e as relações sociais de sexo: para além de uma questão de gênero) discutir os aspectos centrais relacionados a patriarcado e a divisão sexual e racial do trabalho. Inicialmente debatem o patriarcado, apontando a importância de não naturalizar esse sistema, mas entender que ele é socialmente construído. Elas destacam ainda a opção por um debate que chamam de “relações sociais de sexo” em substituição ao debate de gênero, por entenderem que no conceito de gênero, não são explicitados os antagonismos que existem entre os sexos. Destacam também a ideia de família e sua origem atrelada a propriedade privada. A discussão na sequência aponta para a divisão sexual e racial do trabalho. Segundo as autoras, o sexo, a sexualidade, notadamente a orientação sexual,  são componentes da divisão sexual do trabalho, que assim como a divisão racial constituem-se como estruturantes das expressões da desigualdade social. Estabelecendo um link com a questão da divisão sexual do trabalho, as autoras trazem o debate da violência contra a mulher, destacando os tipos de violência e apontando que elas possuem um elemento comum: o patriarcado.

No ultimo item do capitulo, item 1.3. “A classe trabalhadora é una e diversa: há sexo, sexualidade e raça”, as autoras vão discutir que “as relações sociais de sexo e as étnico raciais, conformam as classes sociais”. (p.75) Segundo elas, classe, raça e sexo são indissociáveis para que se possa fazer uma análise de qualquer fenômeno na sociedade capitalista, na medida em que as classes resultam de relações sociais concretas. Para o debate de classe, gênero e raça, as autoras trazem os termos da interseccionalidade e da consubstancialidade e coextensividade das relações sociais. Segundo elas, interseccionalidade, apesar de ser um termo muito utilizado, especialmente pelo feminismo negro, não dá conta desse debate de classe, gênero e raça pois utiliza também outras determinações que não são estruturantes, e considera que as dimensões de classe, gênero e raça são somáticas, ou seja, são relações diversas que podem ser somadas ou não. Já a consubstancialidade e coexistensividade, entende esses elementos como constituintes de uma mesma dinâmica. Pra exemplificar as autoras dizem que a perspectiva da interseccionalidade é de linhas diferentes que podem se cruzar ou não, enquanto a de consubstancialidade e coexistensividade é a de um novelo feito com uma única linha que “entrelaçada, pode apresenta alguns nós mas é una.” (p 85)Vale ressaltar que essa é a perspectiva das autoras.

“Apenas a análise de classe limitada a uma visão economicista não é suficiente, ao contrário, muitas vezes, cometeu ou ainda comete equívocos de não considerar a diversidade humana em sua totalidade. Da mesma forma, apenas a análise da condição de sexo seria insuficiente sem considerar a classe e a raça. Assim como  raça sem o sexo e a classe, também não corresponde a análise das desigualdades em sua dinâmica, complexidade e totalidade. Ou seja, não há como isolar nenhuma dessas dimensões umas das outras”. (p.85/86)

As autoras  assim encerram o capítulo apontado que classe social  é uma totalidade “conformada” em relações sociais concretas (entre elas sexo e raça)  e que concomitantemente pode constituir-se enquanto sujeito político universal que tem como direção ético-política a emancipação humana.

E agora vocês querem o capitulo 2 e capitulo 3 não é??? rsrsrsr Vamos ler o livro??? Até a próxima amiguinhos.

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