Pluralismo e conservadorismo no Serviço Social: algumas questões para reflexão

Como assistente social e professora no curso de Serviço Social, vez ou outra me deparo com algum questionamento sobre o tal pluralismo e a relação com o conservadorismo na profissão.  Profissionais e discentes, por vezes me perguntam se, por causa do pluralismo temos que aceitar profissionais assistentes sociais conservadores. Eu respondo sim e não, numa perspectiva bem Caetano Veloso de ser, aquela coisa linda, paradoxal, sem começo e nem fim. Mas vou deixar de caetanear (só um pouquinho) e explicar o que significa esse meu sim e não.

O princípio que trata do pluralismo em nosso Código de Ética Profissional tem a seguinte redação: “Garantia do pluralismo, através do respeito as correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento profissional”.

Vamos lá. Na análise que eu faço, se o conservadorismo for de fato conservadorismo em relação aos pressupostos da   profissão… sim é nosso compromisso o respeito a essas correntes profissionais. Contudo, se o conservadorismo for apenas um discurso pra “disfarçar” atitudes e comportamentos antidemocráticos, fascistas, violentos, que ferem os valores defendidos pela profissão, a resposta é não.  Isso não tem nada a ver com pluralismo.

Tá passadah? Vamos lá que a proposta aqui é partir do simples para o complexo, do imediato para as relações categoriais mais aprofundadas, para então chegar no “que não é recôncavo e nem pode ser reconvexo”.(para trazer Maria Betânia nessa conversa plural aqui.)

Em termos objetivos, o conservadorismo na profissão é aquela perspectiva que olha pra realidade do sujeito, percebe a necessidade imediata e tenta atendê-la ali no imediato, porque entende que isso é o mais importante, que isso é o propósito único do intervenção profissional.  Atenção… não estou dizendo de profissionais que percebem o complexo da realidade mas dados os limites profissionais e institucionais não conseguem avançar. Estou dizendo de profissionais que se atentam apenas ao imediato e tentam apenas ali no imediato resolver as problemáticas que surgem. Estamos falando de perspectivas conservadoras. Os profissionais que as adotam são péssimos profissionais? Não! São profissionais que, em sua maioria, são excelentes técnicos, ganhando o respeito e o carinho da população usuária.  Resolvem ali no imediato e pronto. Fila que anda. O pluralismo do nosso Código de Ética nos coloca a necessidade de trabalhar com esses profissionais de forma horizontal, com respeito.

Diferente de posturas profissionais que incitam violência, que defendam violações de direitos humanos. Essas são posturas que não  coadunam com os valores defendidos pelo Serviço Social, e portanto, não dá pra falar em pluralismo.

Deixando ainda mais palpável (e correndo o risco de ser rotulada como sintética demais) vou dar um exemplo.

No CREAS (Centro de Referência Especializado da Assistência Social) tem uma equipe que atende adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativa em meio aberto , ou seja  liberdade assistida e prestação de serviço a comunidade. Essa equipe tem 3 assistentes sociais.

A primeira delas, atende os adolescentes buscando garantir que eles tenham acesso ao que está assegurado na legislação.  Busca inserir eles em atividades educativas formais. Adota uma postura extremamente bondosa, quase maternal, tirando muitas vezes desses adolescentes a responsabilidade por suas ações. Sem colocar rótulos, poderíamos dizer que se trata de uma perspectiva de trabalho conservadora.

A outra assistente social da equipe busca questionar os adolescentes em relação ao ato infracional, propondo ações e reflexão acerca da sociedade de consumo, buscando construir com esses adolescentes projetos de vida que vão para além do imediato, considerando seu núcleo familiar e comunitário, o contexto onde esse adolescente está inserido…as legislações, os aspectos sócio-historicos do atendimento ao adolescente autor de ato infracional e diversas outras dimensões.  Uma intervenção que considere essas totalidades está diretamente alinhada com o projeto ético politico hegemônico da profissão.

A terceira profissional não reconhece o Estatuto da criança e do Adolescente como uma legislação a ser seguida, questiona os direitos da criança e do adolescente e entende que os adolescentes deveriam responder como adultos. Entende que serviços como o CREAS são desnecessários e só contribuem para o aumento da violência. Adota postura violenta, coadunando com agressões policiais, e com o cerceamento da liberdade.

A minha leitura é que o pluralismo proposto no Código de Ética diz respeito as interações entre os profissionais 1 e 2 e as diversas variações que podem existir nessas duas perspectivas. São correntes democráticas.

Contudo, quando se trata de postura como a do profissional 3 não é possível recorrer ao pluralismo, pois trata-se de questões que ferem os valores da profissão. Tal postura não é apenas conservadorismo, é negação dos referenciais da profissão, sejam eles conservadores ou progressistas. E aí não dá pra falar em pluralismo.

E você? O que pensa sobre isso? Me deixe saber sua opinião!

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