“Nem o mé, nem a cabaça”: Reflexões sobre teoria e prática no dia da/o assistente social

O dia da/o assistente social é comemorado em 15 de maio. Já vi algumas explicações aí que relacionam a escolha desse dia com o dia em que a encíclica papal Rerum Novarum foi publicada (15 de maio de 1891). A viagem, meu pai! Trata-se de uma infeliz coincidência. A cara queima de ver isso escrito em algumas páginas por aí.

O Serviço Social Brasileiro comemora em 15 de maio, o dia da/o assistente social porque apesar de a primeira lei que instituiu a profissão ser de 27 de agosto de 1957 (Lei 3.252) foi o decreto 994 de 15 de maio de 1962 que regulamentou a Lei, caracterizando melhor a profissão.

Portanto, aqui estamos nós, 15 de maio de 2022, 60 anos depois desse Decreto, comemorando mais um Dia da/o Assistente Social.  E como em 2022 eu comemoro 20 anos de graduada em Serviço Social, aproveito para dar o meu pitaco sobre uma temática que sempre me incomoda: a separação ainda radical que insistem em fazer sobre teoria e prática no Serviço Social.

Para ser assistente social é necessária uma formação inicial de 04 anos de graduação. Nessa formação, a/o discente vai estudar filosofia, economia, sociologia, política social, entre outras disciplinas. Para que isso? Porque trata-se de uma profissão que intervém na realidade e para tanto precisa conhecer a realidade. As/os assistentes sociais estudam tantas matérias diferentes como um propósito estruturante: Conhecer a realidade para nela intervir. Bom, 4 anos de graduação dão conta de tudo que a gente precisa para conhecer a realidade????? rsrsrsrsrs Evidente que não né. Mas dão os subsídios, os referenciais de onde partir. Só que a realidade não é estática, está em movimento. E aí, a teoria, precisa ser lida, revista, significada na realidade que vai se construindo.

E é nesse ponto, minhas caras, que o trem começa a desandar, como dizemos aqui para os lados das Gerais. Porque de um lado, uma galera academicista, que nunca trabalhou como assistente social, que emendou graduação, mestrado e doutorado lendo Marx e que consegue, ao observar o mundo em que vivem, perceber a realidade tal e qual Marx descreveu. Não sei o que bebem. Não sei se conseguem mesmo fazer essa transposição do que Marx escreveu, ou se fazem isso para continuar mantendo a superioridade acadêmica.

Mas do outro lado tem uma galera que fez a graduação, guardou todos os livros de Serviço Social na sacola, junto com a viola, e foi trabalhar. E só. Seja pela correria do dia-a-dia, seja pela necessidade de prover respostas no cotidiano, não buscam o aprimoramento intelectual, na perspectiva proposta pelos princípios fundamentais do Código de Ética.

Estão desenhados os principais elementos que, na minha opinião, continuam alimentando a tão criticada separação entre teoria e prática no Serviço Social. A galera que está trabalhando como assistente social que insiste em dizer que quem está na academia, não conhece a realidade. A galera que está na academia que insiste em desconsiderar, por exemplo, que Marx não falou sobre o trabalho do assistente social em tempos de pandemia da Covid 19. Não, meu caros não falou. E não tem abstração que dê conta de achar nos escritos marxistas referência a essa situação especifica do século XXI e não estou falando exclusivamente da pandemia, uma vez que já houveram outras.

Faz-se necessário um entendimento que sim, teoria e prática são diferentes. Mas são duas faces de uma mesma moeda. Em determinados ângulos, você vai ver melhor a teoria, em outros, a prática. Mas são indissociáveis. Evidente que no atendimento ao adolescente autor de ato infracional, por exemplo, você não vai parar o atendimento para ver o que Marilda Iamamoto diz para fazer. Mas quando você consegue visualizar ali as expressões da questão social, e entender os diversos determinantes que levam aquela situação, você encontra possibilidades de intervenção que só são possíveis pela reflexão teórica.

Escrevo esse texto, nesse 15 de maio, para dizer que, junto com a comemoração, nós assistentes sociais, precisamos conversar mais. E conseguir entender que é possível desenvolver um exercício profissional cotidiano pautado em referenciais teóricos e ao mesmo tempo desenvolver uma formação que se paute também nos desafios do exercício profissional.

Como a gente faz isso? Quem está atuando como assistente social precisa escrever sobre sua atuação, precisa registrar, compartilhar. Ahhh!!! Mas as revistas de Serviço Social são difíceis de publicar! São sim. Sei por experiência própria. Mas a gente consegue fazer nossas reflexões chegarem a outros profissionais de outros modos. Vocês não estão lendo esse texto agora? Pois é! Tem caminhos. Vamos procurar blogs, páginas, perfis em redes sociais e espalhar o que estamos fazendo no nosso cotidiano de trabalho. Vamos escrever nos boletins dos Conselhos Regionais de Serviço Social, vamos fortalecer as Delegacias Seccionais dos CRESS.

E quem está nas universidades, atuando como docentes, pesquisadores, precisa continuar lendo, estudando, pesquisando, inclusive no cotidiano, no que não está nos livros. Faz-se necessário ler o mundo. Ahhh mas a gente já faz isso. Então evidencie esse processo nas aulas, nas pesquisas, nas palestras.

Por fim, nesse 15 de maio, deixo registrada a minha alegria em ser assistente social. Há 20 anos, em 2002, eu me graduava em Serviço Social. De lá para cá, trabalhei na política de assistência social em prefeitura de município pequeno, trabalhei com adolescente autor de ato infracional, trabalhei na gestão, em usinas, em empresa, como empreendedora. Estou há 07 anos como docente. Mas 13 foram atuando como assistente social. Trago para minha docência, as cores que conheci no exercício profissional. Sou assistente social com orgulho. Salve 15 de Maio. Salve Assistentes Sociais desse Brasilzão. Salve especialmente a Turma XXIII de Serviço Social da Unesp Franca, formandos de 2002, a minha turma, cuja foto ilustra esse post. SALVE.

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