Primeiro de Maio e o adoecimento mental no trabalho

Nesse primeiro de maio, queria escrever um texto que falasse acerca da importância da classe trabalhadora no Brasil. Fiquei pensando em várias abordagens. Talvez, algumas diferenças entre trabalhadores/as do campo e trabalhadores/as da cidade. Talvez, a divisão racial do trabalho, ou ainda a divisão sexual do trabalho. Pensei também nas questões de assédio, de violência e a importância de denunciar, e pensar estratégias para o enfrentamento dessa realidade. Enfim, várias abordagens me passaram pela cabeça…todas elas apontando para o fato de que, a classe trabalhadora é diversa e, dentro do sistema do capital, está sempre em situação de opressão.

Mas aí, sei lá, o bichinho do estraga prazer me cutucou, e resolvi falar de adoecimento mental no trabalho.

Fiquei pensando que cada vez mais a gente fala de não adoecer no trabalho, de se cuidar, de se preservar e, mesmo assim, cada vez mais aumentam os números desse adoecimento, de gente cada vez mais “complicada”, “estressada”, “limitada’.

E fiquei pensando o que poderíamos fazer.  De vez em quando, me passa a ideia de jogar Rivotril nos coffee breaks da vida, mas aí o anjo do bom senso, toca o meu ombro e fala: Tais, controle-se, mulher.

Mas falando sério, eu entendo que em primeiro lugar, a gente tem que lutar para que existam, cada vez mais espaços de cuidado com a saúde mental da classe trabalhadora. As empresas, os órgãos públicos, as organizações não governamentais, precisam colocar na pauta do dia, ações de cuidado em saúde mental com as pessoas que trabalham nesses espaços. Precisam prevenir situações de assédio e violência. Esse é o ponto fundamental, a linha que deve estruturar qualquer ação.

Massssssssssssss, penso que tem uma dimensão que a gente quase nunca fala: a nossa responsabilidade, ou sobre o quanto a gente “caça” problema com a mão.

Saúde mental tem uma parte significativa que é nossa, que é a gente aprender a se cuidar, a se perguntar o que de fato é importante, e o que, no fundo é a gente entrando em cilada.

Muito se fala sobre a importância de dizer não, mas é preciso saber também para o que estamos dizendo não. Assumir compromisso que não vai dar conta é ir caminhando para o adoecimento. Assumir estar em lugares que não queria estar, só pra ser cordial com os colegas, é um passo para o adoecimento. Buscar o reconhecimento a qualquer custo, é um passo para o adoecimento. E a gente vai indo, caminhando, correndo, a passos largos para o abismo. (Para dar o tom dramático dessa reflexão, porque às vezes a Pastora dentro de mim grita)

Mas enfim, nesse primeiro de maio, a minha reflexão é sobre o quanto nós, classe trabalhadora, muitas vezes buscamos problemas com a mão.

Buscar a excelência no trabalho nem sempre significa ter as ideias mais brilhantes.

Fazer o seu melhor, não quer dizer estar sempre disponível, especialmente para as coisas que você não quer estar disponível. Eu, por exemplo, em situações de emergência, atendo whats app até no domingo para responder discente e isso para mim é uma alegria, faz parte do meu trabalho, do trabalho que eu gosto de fazer. Estar disponível nessas situações, para mim é uma alegria. Mas, detesto com todas as minhas forças, estar em reuniões que poderiam ser resolvidas com email. Estar em reuniões intermináveis, onde uma pessoa diz uma coisa e a outra diz a mesma coisa só pra registrar a fala. Isso me irrita de um jeito que minha pressão até supita, como diz minha mãe.

Ser capaz de trabalhar em equipe não pode significar passar por cima dos seus limites.

“Forrest Gump é mato, permitam-me contar uma história real, vou contar a minha.” (Eu estou rindo enquanto escrevo isso …e na minha cabeça escuto o Mano Brown…Daria uma filme, uma negra e uma criança nos braços, solitária na floresta de concreto e aço…)

Voltando.

Deixa eu trazer um exemplo pessoal pra vocês. Eu amo escrever. Escrever é uma ação terapêutica, no meu caso. Mas eu escrevo sozinha. Seja artigo, livro, conto, romance, ata, relatório. Sozinha. E demorou anos para que eu conseguisse falar isso e não me envolver em trabalhos que envolvam escrita coletiva. É um dos meus limites. 

E de forma geral , o mundo do trabalho hoje não vê com bons olhos quem escreve sozinho. É sempre uma equipe, um Grupo de Trabalho. E eu tinha medo de pensarem que era arrogante, que eu não sei trabalhar em equipe. Fui me libertando disso. E hoje sou bem mais leve.

Então assim, é preciso pensar para o que a gente vai dizer não. Porque as vezes dizer sim para algo que você não quer é dizer não para você mesmo. E eu não estou falando aqui daquelas obrigações que a gente tem que fazer. Estou falando daquelas que a gente acaba pegando, sei lá por quê. 

E pra encerrar essa reflexão antes que vocês se cansem e eu me perca nas minhas elucubrações, penso que tem uma outra coisa que precisamos dizer não no trabalho: o tal do ego.

Vou parafrasear alguém, que eu não lembro quem, e dizer que, a cadela do ego está sempre no cio. O ego faz a gente se dar uma importância que não tem. E começar negligenciar as coisas que realmente importam, para simplesmente manter o ego inflado. E quem tá falando isso pra vocês é uma pessoa vaidosa, que ama holofotes. E aí estou aprendendo a dizer não para o meu ego também. Tem coisa que não vale a nossa saúde mental. Tem disputas que não valem a pena. Lembro do filme “Advogado do Diabo” cena final, que inclusive ilustra esse texto.

O Keanu Reeves acorda do pesadelo, vira o julgamento e sai. Aí aparece um repórter e insiste pra ele dar entrevista. Quando consegue convencê-lo a pensar na entrevista, o repórter se transforma no coisa ruim e tasca essa: “Vaidade: meu pecado favorito”. E cai na gargalhada.

Sempre me impressiono.

Enfim, primeiro de maio. Vamos nos cuidar, classe trabalhadora. Um salve pra nós.

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