EPIFANIAS MATERNAIS, ou sobre quando você entende um dos sentidos da vida

Gosto especialmente de um dos textos do Evangelho de Lucas, quando Maria ao visitar Isabel, sua prima, e receber dela a saudação que atravessaria séculos (Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do vosso ventre) responde a essa saudação com um canto de uma profundidade e beleza impar… o “Magnificat.”. Fiquei relendo e pensando no momento que Maria vivia quando o canta, o momento da gestação, e como esse momento é de encontro com os vários sentidos da vida.

Não se trata de uma apologia a maternidade. Não. Não é uma celebração romantizada sobre ser mãe. Também não. Porque ser mãe é de endoidecer até a pessoa mais centrada dessa Terra.

 É só uma afirmação de que a maternidade nos proporciona uma oportunidade de encontrar sentidos da vida. Não é a única oportunidade. As pessoas podem encontrar esses sentidos em outras coisas. Mas a maternidade é uma oportunidade que entendo como privilegiada. E nesse cântico  descrito no evangelho de Lucas, penso que Maria teve uma epifania, ou seja, subitamente entendeu  a essência de algo, no caso, sua vida. Permitam-me compartilhar porque penso isso.

Maria diz que a sua alma está feliz e grata, pois Deus a contempla em sua humildade e a partir daí todas as gerações a considerarão uma mulher de sorte.

Eu diria que Maria entendeu que a maternidade  é o toque do Divino em nós. É quando nós, humanas, nos tornamos o cálice que leva o sagrado. Nesse canto, em minha opinião, ela entendeu que a maternidade  é uma das formas de sermos eternas.

Na continuidade do canto, vemos uma Maria que entende que o Divino está sempre nas coisas mais simples, mais humildes, sem soberbas, sem tronos, sem palácios. Assim como a maternidade. Ainda que as condições objetivas tornem a forma como se vive a maternidade diferente, o tornar-se mãe não precisa de convenções. Gestamos. Como gestam as cachorras, as onças. Parimos. Como parem as cabras, as ursas. Amamentamos. Como amamentam as macacas, as lobas. Não tem soberba. Não tem riqueza. Tem madrugadas de vigília, almoços rápidos, banhos relâmpagos. Tem o encontro com o nosso instinto, com aquilo que nos prova que somos pó.

E encerrando o canto, Maria retoma o cuidado divino com sua existência, lembrando inclusive a sua ascendência.  A maternidade nos traz a vontade  de buscar as nossas origens, a nossa ancestralidade.  De saber quem somos pra dizer pras nossas crias de onde elas vieram.  

Enfim, quando Maria se vê reconhecida pela primeira vez como alguém que espera uma criança, como alguém que vai ser mãe, ela entende que um dos sentidos da vida. Então, uno a minha voz a de Maria e a de tantas outras mães desse Planeta, pra celebrar a alegria de entender um dos sentidos da minha vida. Magnificat.

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