Dançar a liberdade…

Em outubro de 2025 aconteceram as apresentações do espetáculo “Dançar a Liberdade” do Núcleo de Dança do Sesi Araraquara. O espetáculo homenageou Josephine Baker, artista excepcional que através da dança revolucionou sua época.

Talvez você nunca tenha ouvido falar de Josephine Baker. Eu também nunca tinha ouvido falar. E se fosse só por isso, o espetáculo já teria cumprido seu papel: Fazer a gente conhecer um pouquinho dessa mulher negra, nascida nos Estados Unidos, mas naturalizada francesa e que se tornou uma figura emblemática da resistência francesa antinazista e da luta antirracista.

Mas “Dançar a Liberdade” entregou mais. Muito mais. Foi um espetáculo de emocionar. Músicas, coreografias, figurinos, cenário, iluminação… tudo em harmonia, um negócio lindo de viver.

Eu sou aluna do Núcleo de Dança do SESI, mas por escolha, fiquei do lado detrás das cortinas. Marido e filhas participaram do espetáculo e eu quis ficar no suporte, como mãe voluntária.

Ficar atrás das cortinas te permite ver o espetáculo acontecer a partir dos seres humanos e não só a visão dos artistas/dançarinos/bailarinas. Por detrás das cortinas, o espetáculo vai se construindo. A ida do camarim para o palco, a concentração nas coxias, a emoção de algumas pessoas entrando no palco. Nos quatro dias de espetáculo eu vi muito. Vi pessoas nervosas, calmas, cansadas, felizes, empolgadas, radiantes. Eu vi pessoas superando seus traumas, vi pessoas ousando algo novo, vi pessoas se encontrando consigo mesmas. Atrás das cortinas eram só pessoas.

Mas então essas pessoas entravam no palco. E era como se, de alguma forma, essas pessoas se libertassem. Como se, de alguma forma, ficassem livres de sexo, gênero, cor, idade, tamanho. No palco, o Núcleo de Dança do SESI Araraquara, a partir do trabalho impecável das professoras Bia Borghi e Carol Deléo, mostrou como se dança a liberdade. E eu fiquei impactada.

Não vi todas as coreografias ao vivo porque eu estava como mãe voluntária, e é simplesmente insano, de uma insanidade, por assim dizer, artisticamente deliciosa. Mas depois, assisti a transmissão pelo YouTube. E de novo me peguei emocionada, porque a dança fala todas as línguas, de todos os tempos, de todos os lugares.

Foi muito intenso ver os campos de algodão, e por algum tipo de memória ancestral, sentir os grilhões da servidão. Mas também foi mágico chegar em Paris com Josephine Baker. Eu sonho com Paris desde o meu curso de francês lá no início dos anos 2000. Ver minhas filhas, com as cores de liberté, egalité e fraternité  e  dançando ” Et c’est Paris, qui fait la parisienne, Qu’importe, qu’elle vienne du nord ou bien du midi” (E é Paris que faz a parisiense não importa se ela vem do Norte ou do Sul) me fez sentir o coração palpitar forte. Mas foram palpitações em francês, mes cheries.

Coração bateu forte também ao ver as minhas colegas do balé adulto, brilhando no palco.Tantos sonhos ali representados. Mas como a arte de Josephine Baker também era compromisso e denúncia, a cena do protesto, com os artistas de punho levantado e os cartazes foi impactante. Enfim, vários momentos inesquecíveis para mim, especialmente aqueles em que Arlei, Nice de Fatima e Angelina de Lourdes estavam no palco.

Mas, além desses momentos bastante pessoais, preciso destacar duas coreografias que me impressionaram muito. A coreografia “Guerra” e a coreografia “Espiã”. Em “Guerra”, as bailarinas de preto e uma música instrumental que arrepiava. As bailarinas corriam no palco no ritmo da música e meu coração disparava….  era inacreditável… como se eu tivesse fugindo de alguma coisa.

E em “Espiã”, a moça, que em alguns momentos do espetáculo representou Josephine Baker, trocava de roupa no palco enquanto as demais dançavam e a impressão que eu tinha, era de que elas estavam disfarçando, espiando… tudo isso, sem palavras…e no ritmo da música. Impressionante demais.

Dançar a liberdade foi um convite. Um convite para irmos buscar os nossos próprios sonhos. Para que a gente não se cale diante da injustiça. Para que a gente enfrente a vida com autenticidade e determinação. Dançar a liberdade foi mágico. E a dança liberta.

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