Cara Doutora Janaina…
Inicialmente convém explicar que utilizo o título de Doutora, não porque a senhora é bacharel em Direito, mas em alusão ao seu Doutorado em Direito Penal, concluído em 2002, pela Universidade de São Paulo.
O que eu quero deixar registrado Doutora é que lhe respeito profundamente. A admiração não existe porque, na minha opinião, a senhora fez escolhas políticas profundamente equivocadas, que são bem diferentes das minhas. Mas o respeito tá aqui. Estudar nesse país é um privilégio prá poucas de nós. Tornar-se Doutora por uma das universidades mais conceituadas do país é ainda mais difícil. Esses, entre outros aspectos, constroem o meu respeito pela senhora.
E é por causa desse respeito, que não posso deixar de mostrar a minha indignação quando esse energúmeno guru de tolos lhe ofende, a partir de uma questão que é especialmente de gênero.
Gênero que a senhora refuta eu sei. Gênero que a senhora chama de ideologia e trabalha pra que não haja debates. Que equívoco Doutora. Que equívoco. “Errou feio. Errou rude”. Nananinão!!! Discutir gênero é fundamental para que possamos pensar alternativas pra esse quadro de desigualdades que está posto aí. É por isso Doutora, que nós feministas lutamos. Pra que as mulheres do mundo não sejam submetidas a esse tipo de abordagem misógina de Olavo Carvalho. Pra que as mulheres do mundo possam ser quem quiserem, possam falar o que quiserem sem serem ofendidas por sua condição de mulheres.
Do lado de cá, das esquerdas, também temos os machos escrotos, os esquerdomachos que cotidianamente tentam nos calar, nos silenciar, dizendo que nossas pautas são menores. Mas olha, vamos combinar que do lado que a senhora está, o lado das direitas, a escrotice é regra. Canalhas. Seguem na ditadura do falo, achando que nos privar do falo é decretar nossa morte. Só me faz acreditar cada vez mais que, quem precisa do falo são eles. São falodependentes.
Por isso, Doutora, decido escrever essa carta. Pra dizer que apesar das suas enormes mancadas políticas, lhe respeito. Pra dizer que o projeto societário que defendo, sem exploração/opressão de gênero, raça e classe é diametralmente oposto ao que a senhora propõe. Contudo, quando ofendem a sua condição feminina, ofendem a mim também.
Lembro quando do processo do impeachment de Dilma, a senhora fez aquele discurso inflamado, citando República da Cobra e um monte de outras tontices. Virou meme imediato. Todo mundo se aproveitando pra reforçar a pecha de mulheres loucas. Eu confesso que achei absurdo, ridículo e infundado o seu discurso. Mas a empolgação das palavras, os gestos impensados, a fleuma que lhe tomava… Foi lindo de se ver.
A minha formação pentecostal me fazia dar gritos de felicidade. Parecia umas pastoras muito lindas que existem por aí. Mas tem outra coisa também: o meu fascínio pelas figuras míticas das bruxas me fazia enxergar uma bruxa poderosa mexendo o caldeirão com a cabeleira solta e os olhos meio saltando da cara. Lindo demais. Pena que usado de forma tão equivocada. Tão limitado. Tão blasé.
E agora, a Doutora vem e propõe a saída do Tolo Mor da Presidência. Perfeito. Mas de novo erra. Erra feio. Erra rude. Mourão não é a saída minha querida. Nunca foi. Esqueça essa necessidade de apontar homens fortes. Esqueça. Concentre-se na sua força, na sua história, nas suas paixões, na sua racionalidade feminina. Concentre-se na liderança que você é. Porque se você não se concentrar nisso, eles nunca vão te valorizar. Nunca. Você vai ser sempre a.louca dos discursos verborrágicos.
E mais do que nunca, tome cuidado Doutora. Esse desgoverno que a senhora ajudou a eleger, não suporta a crítica. Cuide -se.
