Gênero e Raça

Entre Macabéa e Ponciá: por uma literatura que aborde a pluralidade de mulheres brasileiras

Entre Macabéa e Ponciá: por uma literatura que aborde a pluralidade de mulheres brasileiras

E vale ressaltar, para que não fique nenhuma dúvida, que eu não estou dizendo que uma personagem é melhor ou mais representativa que outra. Ou ainda, que uma autora seja melhor ou maior que outra. O que quero compartilhar com vocês é que na pluralidade das mulheres brasileiras, qualquer iniciativa que se pretenda homogênea é capenga e inconsistente. Isso serve tanto para literatura como para o feminismo. Se de fato, quisermos pensar a diversidade das mulheres brasileiras, precisamos entender que existe Macabéa, Ponciá e tantas outras. Fico pensando que para quem se nomeia feminista, ler “Mulheres que correm com lobos” e não ler “Niketche” é um equívoco colonial. Porque são perspectivas diferentes, que enriquecem de forma gigante o debate feminista.

Entre o patriarcado negro e o feminismo branco burguês: provocações de uma feminista negra trabalhadora

Entre o patriarcado negro e o feminismo branco burguês: provocações de uma feminista negra trabalhadora

Nessa direção nós, mulheres negras, seguimos sem lugar nessas lutas. Vamos focar em classe e perceber que, mesmo quando ascendemos e ampliamos o nosso poder aquisitivo, continuamos submetidas a situações como ser “confundida”? Vamos direcionar todas nossas forças contra o racismo e ver os homens negros avançarem e nós continuarmos nos mesmos lugares e papéis? Vamos nos juntar na luta feminista e ver que para as mulheres brancas a gente continua sendo a empregada que limpa a casa enquanto elas estudam Simone de Beauvoir?

A Trancista

A Trancista

A menininha olha o espelho e sorri. Ela se acha tão engraçada com seu cabelo de duas tranças, uma de cada lado da cabeça. As tranças foram feitas pela mãe e, diferente de tranças que descem escorridas pela cabeça, as dela parecem ter vida própria. Ela pode erguer para cima, pode esticar para o lado. São tranças mágicas mamãe, ela fala sorrindo. Eloana, a menininha, sorri no espelho, sorri para mãe e segue guiada pela mão afetuosa do pai para a escola.

Em busca de mim: a biografia de Viola Davis

Em busca de mim: a biografia de Viola Davis

A biografia de Viola Davis (265 páginas) é um livro bom de se ler. Uma menina pobre, extremamente pobre (miserável é a palavra), que passa por tudo quando é coisa ruim nessa vida e que encontra na arte a possibilidade de construir uma outra trajetória. Mas essa outra trajetória não é mágica, não é da noite para o dia. Ela não é transportada da noite para o dia de uma realidade de casa cheia, pessoas viciadas e cheiro de urina, para o tapete vermelho. Não. Ela vai se construindo. Interessante é que pelo que o livro deixa entender, boa parte da família dela segue na pobreza, já que ela não tem condições de sozinha, ajudar todo mundo.

Quando só ter direitos não resolve

Quando só ter direitos não resolve

Às vezes, só ter direitos não resolve. Uma das situações que me fez pensar nisso foi o caso assombroso do anestesista que abusou da mulher na cesárea dela. E na onda daquela situação, choveram informações sobre a lei do acompanhante. Blogueiras, artistas, militantes, todo mundo divulgando frases com o teor: “Mulher, você sabia que você tem direito a um acompanhante? Mulher, exija seu direito”. E assim por diante. Eu lia essas coisas com uma certa raiva, confesso. Porque de alguma forma, é de novo uma cobrança da vítima. Como se ela não soubesse que tem direito.

Niketche: A dança da vida das mulheres

Niketche: A dança da vida das mulheres

Rami é casada com Tony há 20 anos e tem cinco filhos. Tony é rico. Ela começa a investigar os casos extraconjugais de Tony e descobre que, além dela são outras quatro mulheres: A Ju, a Lu, a Sally e a Mauá Salué. Essas mulheres têm filhos do Tony, são família dele também. Rami sofre e chora, bate nas outras mulheres e apanha delas. No aniversário de 50 anos do Tony, Rami faz uma grande festa e convida todas as 4, oficializando a poligamia. Mesmo que legalmente não seja reconhecida no país e vista como atraso por alguns, o costume permanece. E Rami se aproveita desse costume para expor o marido, diante da sociedade

13 de maio foi o dia da Abolição? Reflexões de um dia depois

13 de maio foi o dia da Abolição? Reflexões de um dia depois

O que vem depois do 13 de maio? A necessidade de garantir que a abolição formal se concretize e que a partir das condições de seres humanos livres (nessa conjuntura) se possa lutar por igualdade.13 de maio foi o dia da Abolição? Sim. Mas só a abolição não basta. A luta continua sendo por igualdade.

Carta a Janaína Paschoal

Carta a Janaína Paschoal

Por isso, Doutora, decido escrever essa carta. Pra dizer que apesar das suas enormes mancadas políticas, lhe respeito. Pra dizer que o projeto societário que defendo, sem exploração/opressão de gênero, raça e classe é diametralmente oposto ao que a senhora propõe. Contudo, quando ofendem a sua condição feminina, ofendem a mim também.

Sobre carapinhas e o engodo midiático dos cachos de Taís Araújo

Sobre carapinhas e o engodo midiático dos cachos de Taís Araújo

Assim como parcela significativa das mulheres negras militantes que conheço, minha história com minhas madeixas é cheia de peripécias. Teve pente quente (sim, aquele esquentado no fogo), wellin, alisa e tinge, touca de grampos, relaxamento caseiro com um pouco de alisante e muito creme de babosa, bobes térmicos, etc, etc.